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  • Pedro Cofcevicz

Natureza nas alturas: telhado verde


Dentro do contexto global de crescente busca por soluções sustentáveis, um método que vem ganhando terreno na construção civil é a produção de telhados verdes. Apesar de ser um conceito relativamente antigo quando comparado a outros métodos sustentáveis em destaque atualmente – relatos de sua utilização chegam a datar de séculos antes de Cristo -, ele permanece inovador em sua essência, e oferece ao ambiente em que está inserido diversas vantagens ecológicas, estéticas e sociais.

Na década de 1920, o célebre arquiteto Le Corbusier publicou um manifesto intitulado “Cinco Pontos da Nova Arquitetura”, que viria a guiar muitos dos conceitos da arquitetura moderna até o presente. Dentre estes pontos, o suíço incluiu a utilização de telhados verdes, a fim de compensar no telhado da edificação o solo por ela ocupado no térreo. Sua ideia era transformar os esquecidos espaços no terraço dos edifícios em áreas de lazer, com jardins, bancos e convivência entre amigos e vizinhos. No Brasil, um dos grandes expoentes da arquitetura moderna que apresenta telhado verde é o Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, projetado na década de 40 por uma equipe de arquitetos que inclui o grande Oscar Niemeyer.

Terraço do Palácio Gustavo Capanema - Rua da Imprensa nº 16, Rio de Janeiro

(fonte: https://goo.gl/JZStzf)

A inserção dos telhados verdes é repleta de fatores interessantes para a paisagem urbana. A vegetação é uma excelente reguladora térmica, colaborando com a amenização da temperatura no verão e com a manutenção do calor no inverno, ajudando a suprir um dos grandes problemas ambientais urbanos da atualidade: as ilhas de calor. Além do evidente conforto que isto traz, ainda acarreta economia energética (e, consequentemente, financeira), pois reduz-se a demanda por métodos custosos como ar condicionado e ventilador. O telhado verde também auxilia no sistema de drenagem da edificação, reduzindo a necessidade de escoamento de água, além de filtrar a poluição desta. Consequentemente, reduz os riscos de enchentes, pois a água que outrora poderia escorrer para as ruas é retida pelo substrato vegetal. Tudo isso somado à grande função que desde pequenos estamos acostumados a escutar sobre a flora: a filtragem do gás carbônico e sua transformação em oxigênio, impactando positivamente na saúde respiratória dos habitantes da região.

Fotografia em infravermelho do Chicago City Hall, em Chicago, evidenciando o maior conforto térmico na região com telhado verde - na imagem à direita, região em roxo.

(fonte: https://goo.gl/q1rJQq)

Além das vantagens ecológicas, o telhado verde também abre uma ampla gama de possibilidades estéticas para a arquitetura, e pode tornar-se um espaço de convivência e recreação, além de atrair a fauna para um ambiente antes hostil, possibilitando um saudável convívio das pessoas com a natureza.

Essa palestra, legendada em português, apresentada em uma Conferência TED, ajuda a exemplificar o impacto positivo que a transformação de ambientes inertes em jardins e áreas ecológicas pode ter em uma metrópole como Nova Iorque.

A Associação Internacional de Telhado Verde (na sigla em inglês, IGRA), define os telhados verdes em três categorias: extensivo, semi-intensivo e intensivo, cada qual mais adequado para um determinado tipo de estrutura ou para a função a ele designada.

Extensivo: usado em locais com pouca capacidade de carga, a qual é prevista entre 60 e 150kg/m², espessura entre 6 e 20cm e vegetação rasteira; em geral para fins meramente ecológicos, possui baixa necessidade de manutenção;

Semi-intensivo: meio-termo entre o intensivo e o extensivo, a carga prevista para telhados deste tipo é de 120 a 200 kg/m², a espessura do sistema fica entre 12 e 25cm e comporta plantas de médio porte, porém não árvores; além de função ecológica, dá mais liberdade ao projetista para adequação estética do ambiente do que o extensivo;

Intensivo: o mais complexo dos três tipos, telhados do tipo intensivo têm carga prevista de 180 a 500kg/m² e espessura de 15 a 40cm, comporta plantas de grande porte, como árvores; neste formato, é possível o projeto até mesmo de parques, com passarelas e lagoas; possui o maior custo de manutenção dos três;

Apesar da diferente ordem de complexidade dos tipos de telhado verde, todos eles compartilham da mesma estrutura, apenas variando em espessura, materiais e, no caso do solo e da vegetação, composição.

Detalhamento da composição da estrutura de um telhado verde

(fonte: https://goo.gl/7hbjkP)

  • A laje é a base do telhado, portanto, deve ser dimensionada adequadamente para comportar a carga da estrutura;

  • A camada impermeabilizante, normalmente feita com uso de uma manta sintética, retém a água, prevenindo o sistema contra umidade e infiltrações;

  • A membrana anti-raiz limita o crescimento das raízes da vegetação, impedindo que estas penetrem na laje, o que poderia comprometer a estrutura;

  • A proteção mecânica é opcional e tem como função fornecer uma proteção extra ao impermeabilizante;

  • A camada drenante serve para drenar a água e também para filtrá-la, evitando o empoçamento e destinando adequadamente;

É importante ressaltar que a instalação de telhado verde, apesar de aparentemente ser composta de passos simples, deve ser sempre feita por um profissional instruído e com conhecimento do sistema, e nunca de improviso. As consequências de um telhado verde mal projetado e mal executado podem ser fatais para a edificação, comprometendo por inteiro a estrutura.

Desde a antiguidade, os telhados verdes permanecem uma solução extremamente interessante no contexto urbano, pois promovem diversas comodidades para os habitantes e para a disseminação da natureza em um ambiente frequentemente hostil. Mesmo que tímido, no exterior o uso do sistema é mais bem disseminado do que no Brasil; Chicago, cidade nos EUA que sofre regularmente com ondas de calor, é referência mundial no quesito. Por aqui, infelizmente ainda é muito raro observar essa solução, não diferente de outros aspectos inovadores que enfrentam esta resistência no Brasil. Alguns lugares, como Porto Alegre, Guarulhos e o estado de Santa Catarina, já possuem legislação sobre o assunto, abrindo margem para acreditarmos que, no futuro, essa tecnologia seja mais bem aproveitada, tornando as cidades mais sustentáveis e mais agradáveis de se viver.


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