Luiza Seabra
Mulheres na arquitetura e na engenharia civil
Em 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, as mulheres de Berlim receberam ordens para remover os entulhos e dar início à reconstrução da cidade. As “Trümmenfrauen” em alemão, ou “mulheres dos escombros”, como ficaram conhecidas, estabeleceram os fundamentos da Alemanha pós-guerra, reconstruindo a arquitetura da sua maneira. Ainda assim, a tradição historiográfica tende a apagar o sexo feminino. Berthold Brecht, poeta alemão, expõe uma situação semelhante quando escreve: “Nos livros estão nomes de reis. Arrastaram eles os blocos de pedra? (...) A grande Roma está cheia de arcos do triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os césares?”.

Nesse contexto, pouco se fala em Simone de Beauvoir, Rosa Parks, Bertha Lutz e menos ainda em mulheres inseridas no contexto da Educação Superior. No Brasil, somente em 1887 - quase oitenta anos depois da fundação da Escola de Ensino Superior - Rita Lobato Velho Lopes consagrou-se a primeira mulher graduada no país.
Mesmo assim, índices apontam a dura realidade do século XXI: mulheres em profissões como engenharia ganham cerca de 30% a menos do que os colegas homens. Em um cenário marcado pela presença masculina, elas representam apenas 15% do total de profissionais registrados no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). Pensando nisso, foi criado pela Women’s Engineering Society (WES), do Reino Unido, o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia, comemorado no dia 23 de junho, buscando fortalecer esse espaço que as engenheiras vêm ganhando na profissão.

No Brasil, a Engenheira e Urbanista Carmem Portinho, uma das elaboradoras do projeto estrutural do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), foi responsável por fundar a União Universitária Feminina e por ajudar a fundar a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (ABEA), sendo uma precursora importante da inserção feminina em ambos os cursos.
Também, é comum que engenheiras e arquitetas relatem que são menos respeitadas como profissionais por serem mulheres. Barreiras expressas e outras veladas impedem a entrada e permanência do sexo feminino nas carreiras das profissionais. Elas vão desde os processos seletivos, a exclusão no ambiente de trabalho, a subestimação da capacidade de mulheres em cargos de referência, até a declaração de que se prefere trabalhar com homens, como relata a engenheira civil especialista em Building Information Modeling (BIM) Daniele Ramos do Nascimento em entrevista ao Portal G1 (saiba mais sobre BIM através do nosso texto “O que é BIM?”).
Na arquitetura, felizmente é mais comum encontrarmos mulheres que tiveram seu talento reconhecido: Lina Bo Bardi, Zaha Hadid, Rosa Kliass, entre outras. Ainda assim, há um longo caminho até que possamos, de fato, ser respeitadas em nossas profissões pelas habilidades que temos e por nossa competência, sem que o gênero seja um impedimento. Virgínia Woolf, escritora modernista britânica, disse: “pela maior parte da história, ‘anônimo’ foi uma mulher” - sejamos a geração responsável por estampar os nomes de grandes engenheiras e arquitetas nos livros de história.